PATRIMÓNIO

Fixada em Portugal desde o século XII, a Ordem de Cister acompanhou a formação do território e a afirmação política da primeira dinastia.

Fixando-se no Vale Varosa, os monges brancos contribuíram de forma decisiva para a colonização e desenvolvimento do território, trabalhando a terra de forma intensiva, empregando técnicas agrícolas que se traduziram numa transformação da paisagem.

Os conjuntos monásticos erguidos, de que são exemplo os Mosteiros de S. João de Tarouca e de Santa Maria de Salzedas, conservam, ainda hoje, importantes espólios artísticos que incluem azulejaria e pintura, talha dourada, ourivesaria, escultura e outros testemunhos da evolução da arte portuguesa ao longo dos últimos séculos.

É, no entanto, a privilegiada relação com a paisagem que os torna singulares. Se os mosteiros de Cister conseguiram transformar as envolvertes, mercê do desbravamento de terras e da planificação de engenhosos sistemas hidráulicos

com encanamento e encaminhamento de caudais, construção de enormes condutas subterrâneas ou regularização das margens de rios e ribeiras, eles fazem atualmente parte integrante de unidades paisagísticas mais vastas, às quais dão um valor acrescido que importa preservar e valorizar.

O Projeto Intermunicipal de Ecoturismo Cultural – Caminho dos Monges, pretende abraçar este legado histórico e cultural, num convite à descoberta de um território prodigiosamente dotado de um espólio natural, patrimonial e paisagístico que o distingue dos demais, tornando-o único no contexto nacional.

Tratando-se de um Projeto Intermunicipal, cujo traçado, de aproximadamente 40 quilómetros, atravessa os Concelhos de Tarouca e Lamego, percorrendo os caminhos palmilhados durante séculos pelos monges nas suas rotinas e 

deslocações no território e hoje providos de imóveis nacionalmente reconhecidos e classificados de grande importância arquitetónica e histórica:

Em S. João de Tarouca deslumbramo-nos com o seu Mosteiro, Monumento Nacional desde 1956, a mais antiga fundação cisterciense em Portugal, uma vez que os primeiros monges fixaram-se neste ponto do rio Varosa em 1140, ano em que D. Afonso Henriques passou carta de couto a uma comunidade observante da regra de São Bento, o que fez com que Tarouca fosse, ao longo da Baixa Idade Média, um dos mais importantes estabelecimentos monacais nacionais. Aqui, no Mosteiro, encontra-se sepultado, num monumental túmulo de granito, decorado com cenas de caça nos faciais, tema característico de uma nobreza fundiária em busca de prestígio social e legitimação, D. Pedro Afonso, Conde de Barcelos, filho bastardo de D. Dinis.

Seguindo a rota do Caminho dos Monges, na freguesia de Mondim da Beira é possível observar o Arco de Paradela (Imóvel de Interesse Público desde 1954), que, muito embora seja reconhecido o seu valor histórico e a data da sua construção, no quartel do século XII, o propósito da sua construção tem dividido as opiniões, pois para alguns o arco é um padrão que se ergueu naquele local para demarcar o limite do couto do Mosteiro de São João de Tarouca, para outros o arco integrava uma maior estrutura que serviria para albergar o túmulo de Diogo Anes, proprietário do terreno em 1175, data que se atribuí à sua edificação, e para a população local, o arco é um monumento comemorativo da passagem do cortejo funerário de D. Pedro, conde de Barcelos, que ali parou quando ia para o Mosteiro de S. João de Tarouca para ser sepultado.A Igreja de S. Pedro, situada em Tarouca, e Imóvel de Interesse Público desde 1948, é um edifício que terá sido edificado entre meados do século XIII, muito embora a sua primeira referência documental date de 1163, e representa um belo exemplar de uma arquitetura românica.

Em Ucanha encontramos as imponentes Torre e sua Ponte, Monumento Nacional desde 1910. A data da sua construção remonta ao século XII, período em que este território estava vinculado ao Couto do Mosteiro de Salzedas, tendo, no século XV, por ordem de D. Fernando, abade de Salzedas, sofrido algumas intervenções na sua reconstrução, passando a ser uma estrutura física de proteção de pessoas e bens que, em período feudal, obrigava o pagamento de um imposto de portagem. Também aqui é possível observar o pelourinho, símbolo de assaz importância histórica e de autonomia regional, reconhecido como Imóvel de Interesse Público em 1933.

Ao entrar na Freguesia de Salzedas deparamo-nos de imediato com o majestoso Mosteiro de Santa Maria de Salzedas, Monumento Nacional desde 1978, construído em meados do século XII, aquando da doação do couto de Argeriz a Teresa Afonso, viúva de Egas Moniz, que o legou, posteriormente,

aos monges beneditinos do Mosteiro de Salzedas. O Mosteiro Cisterciense veio a sofrer uma profunda remodelação no tempo de D. João III, nos séculos XVII e XVIII.

Junto às margens do rio Balsemão, podemos conhecer um dos monumentos mais antigos de Lamego e, até mesmo, do território português, a Capela de S. Pedro de Balsemão. No seu interior, de raro valor histórico e arqueológico, viajamos até aos tempos suevo-visigóticos, que remontam ao século VII d.C., época em que Sisebuto, um rei visigótico, chega a cunhar moeda em Lamego. Ali encontramos, ainda, duas magníficas peças do século XIV dignas de menção: uma escultura de Nossa Senhora do Ó, esculpida em pedra Ançã, e o túmulo em granito do Bispo do Porto, D. Afonso Pires, que ali fez grandes obras.

Além disso, também podemos testemunhar a presença romana, bem visível nas várias pedras inscritas reutilizadas na construção e encastradas nas paredes da Capela. As inscrições

denominadas como Terminus Augustalis delimitavam os territórios dos povos durante o domínio romano. Apenas se conhecem 6 dessas peculiares inscrições em território nacional. Um deles aparece na região de Lamego, estando encastrado na parede exterior da Capela de S. Pedro de Balsemão.

A linha Férrea de Régua – Lamego começou a ser construída no início do Séc. XIX e tinha uma extensão de cerca de 20km. Contudo, devido à dureza do traçado e várias contingências políticas no final da década de 1930 as obras foram canceladas.

Ainda hoje é possível seguir o traçado da linha, que se encontra bem definido e usufruir das duas pontes, autênticas obras de arte que foram construídas, uma sobre o rio Douro e outra sobre o rio Varosa.

A Quinta de Mosteirô fica situada na freguesia de Cambres, 

concelho de Lamego, na Região Demarcada do Douro, a mais antiga região demarcada e controlada do mundo, declarada Património Mundial pela UNESCO sob o nome de Região Vinhateira do Alto Douro. O primeiro registo conhecido da Quinta de Mosteirô reporta a meados do séc XVI na obra de Rui Fernandes na Descrição do Terreno ao redor de Lamego duas Léguas (1531-1532). Dela se diz que pertence a “S. João de Tarouca, que os seus vinhos vão todos de carregação e ainda que poucas quintas deste compasso se acham no reino tão boas”. A Quinta de Mosteirô foi também administrada pelos Monges de Cister e referida na carta do Marquês de Pombal (o responsável pela criação e demarcação da Região Demarcada do Douro em 1756) como produzindo vinho de embarque (exportação).

Calcorrear o Caminho dos Monges, fazendo um périplo pelos seus monumentos e pelas igualmente atraentes paisagens

ribeirinhas que testemunham um substancial interesse endógeno é, indubitavelmente, um convite à descoberta de um passado integrado num presente e preocupado com a sua preservação para o futuro. Os monumentos que estes concelhos encerram, que os antepassados lhes confiaram, atestam a sua importância milenar. Estão recheados de histórias misteriosas e resguardados em sítios mágicos, cenários que nos ajudam a recuar no tempo e a visualizar o passado, numa região com tanto por revelar.

Um Caminho único e Milenar que o vai transportar para outros tempos.

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